Distante


A cidade está deserta,

As curvas já não são perigosas.

A loucura se choca com a necessidade de estar sóbrio.

Foram apenas algumas doses, mas podia ter sido a garrafa toda.

O copo esteve meio cheio, como a muito não se encontrava.

Para isso foi preciso estar só.

Eis a verdade; acabou.

Cobaia


Vamos falar sobre algo que te arranque sorrisos:
Alguma reputação, qualquer sacanagem ou injúria banal.
Isso te deixa feliz?
A mim não.
De onde venho a felicidade é mantida no escuro.
O contentamento vem conforme as luzes se apagam e as estrelas se acendem.
Sou uma estranha aqui
Minha valentia foi inventada
Mas eles mentem o tempo todo
Ainda que minha alma esteja corrompida
É preciso andar na linha
Eu não finjo ( Mas poderia )
Deveria calar a boca e ouvir o que eles tem a dizer
Ou esperar que o céu desabe sobre nós
E não haja mais opções.
Culpem a posição do sol no momento em que nasci,
Condenem as fases da lua em que eu me escondo,
Compare-me com aqueles que me puseram no mundo.
Façam o que quiser; eu não dou à mínima pro que pensam, falam ou deixam de sentir.
Educação?
Guardo para os momentos importantes.
Tolerância?
Não sei o que é.
Boa vontade?
Só se me convier.
Os frutos da minha colheita são amargos e quase não me sobrou amigos para compartilhá-los.
São essas rasuras que me aliviam.
Escrevo para não esquecer; não faço poema, não anseio agradar.

Genes compartilhados

Tamanha a ira que provoca é a compaixão que deriva,
Socos que pairaram no ar enquanto o tempo se esgotava,
Carinhos invisíveis guardados em segredo e mentiras jogadas na cara;
Tão insuportavelmente distintos e cheios de si quanto dois irmãos podem ser.
Submerso, talvez num futuro distante, a importância será recíproca,
Ou seguirão os dias com o que sobrou da infância que tivemos.
Ele: Um carateca, craque em me deixar pra escanteio.
Eu: Só carente e preocupada.

Subsolo

Querer.
Apenas querer.
Sem nenhum manifesto.
Estagnada na zona de conforto,
Convencendo os pensamentos a se conterem.
Atrás da porta abafo meus suspiros,
Dentro do peito, acumulo esses tremores.
Da boca para fora sussurro palavras frias.
Não passam de idéias improváveis.

Entre Dardos e Cabos

Em minha volta, as paredes deviam estar rabiscadas, de vermelho quem sabe?
Na estante, os retratos deviam ser em outros cenários, e variar as figuras com certeza.
Minhas aventuras estão guardadas no armário, arquivadas por séries e autores;
Uma t.v. sem antena literalmente abandonada, assiste a minha decadência sem censura;
Há objetos enfileirados, em cada um, há um pouco de mim.
O espelho na moldura é incapaz de refletir a sujeira escondida no tapete.
Aqui dentro é o lá fora da outra prisão.

Selos

Passo os dias fazendo as malas, indo a lugar nenhum;
Despeço sorrateiramente e recolho meus pensamentos para que não sintam minha falta;
Passam por mim conduções lotadas de passageiros sem bagagens.
Eles apenas foram;
Enquanto eu não decidi por qual caminho seguir.

Porta-Voz

Ah, o amor, pobre coitado.
O deixem em paz.
Permita que ele escolha quando, a quem e como lisonjear.
Pare de sufocar uns aos outros em seu nome.
Não o culpe por suas fraquezas.
Quem disse que o amor exige cuidados?
Ele que sobreviva. Se virando, sem que vocês o dobrem em coraçõezinhos tortos.
O amor é auto-suficiente.
Mas implora para que não o expliquem ou o intervenham a torto e a direito por ai.

(Re) Pouso

Já vivi como se existir não importasse.
Outrora valia a pena soltar sorrisos efêmeros, embriagados e dissimulados.
O que eu era não cabe aqui.
Mas me falta o que eu tinha;
Amigos de mentirinha que continuam de verdade entre si.
Me bani do bando, voei baixo enquanto eles seguem viagem.